quarta-feira, 20 de março de 2013

A coragem de um Papa


A coragem de um papa
a.j.chiavegato

À esta altura, não temos mais papa. Saiu fugindo? De jeito nenhum! Em última crônica escrevi que admirava o teólogo, mas não o papa. Hoje se ameniza minha negativa, desfaz-se tornando-se em admiração. Em sua honestidade cai a ambiguidade entre Bento XVI e Ratzinger. Foi-lhe tarefa extremamente pesada. Quando escolhido como papa, topou, consta que não queria. Santos acreditam que Deus nos impõe fardos ao porte dos ombros, como dizia o teólogo Adoniram Barbosa: Deus nos dá o frio conforme o cobertor. Não é bem assim. Uma boa vontade tem que sempre se fundamentar em uma fé discernida. Coragem de ser e de aceitar, alicerça-se em humildade e na inadvertida confiança de Deus dos que lhe dizem: vai lá José, se necessário Deus segura as pontas. Bento XVI fez possível, seguramente o papa mais culto da história dos papas. Não basta ser culto para ser papa. Erro que o escolheram. Jesus definiu a primordial missão de Pedro: fortalece a fé de seus irmãos Lucas 22,32 , não necessariamente esclarecer as mentes, mas firmar seus corações. Missão de pai não é ensinar, quem educa são todos os homens na mediação do mundo. Dever de pai e acolher os filhos, a auscultar a voz dos tristes, fracos, doentes, desviados. Essa é a voz do Espírito de Deus que sopra e anima a família da Igreja. Por isso, louvo e amo a coragem de um papa que dá lugar a outro, mais forte que ele para topar a pegar o último lugar da Igreja, sem palavras e de figuras, na urgente tarefa de transformar radicalmente a face da Igreja.
Sem dúvida, hoje a Igreja singra em águas tumultuosas – na expressão dele, parece que faz água a barca de Pedro, no fundo Jesus dormindo sem sonhos e pesadelos, tranquilo. Dorme e vela, mistérios, enquanto homens trabalham e lutam que navegar é preciso, à coragem dos homens da Igreja. Ratzinger teve medo, sim. Inteligente e culto, desmoronou-se, pequeno diante dos problemas da Igreja que hoje estouram aqui e lá, mar de lama a passar nos subterrâneos do Vaticano. Entristece-se o coração de um pai, pobre, fraco. Fico triste especialmente diante de noticias sobre padres, bispos, cardeal a garantir a geral lei da fraqueza humana: padre é um homem, fraco! Claro, todo homem gosta de mulher, inscreve-se em sua vocação desde os tempos da criação. Quando falta mulher a que se renunciou, vale tudo? Vale refugiando-se em álibi na fraqueza humana? Não é do homem, muito menos do padre, a fraqueza da desordem em sexo. O celibato não pode enxovalhar a santidade do casamento. Minha pessoal experiência garante: como padre, guardei a inteira castidade de um homem total. Quis todas as mulheres do mundo e a todas renunciei. Ao casar, entreguei-me a uma, renunciando a todas as demais. Fico triste e muito, mas não cai um fiapo de minha fé pela Igreja de Jesus. Que é a Igreja, o Vaticano? Não! Infelizmente é a casa do papa. Está na hora de sair dela e fechar o museu, lindo e funesto tempo em que os papas eram reis, donos do mundo quando prevaricavam padres, cardeais, até mesmo alguns papas gerando bastardos. Passou-se esse tempo, graças a Deus. Amo todos os papas que conheci, a meu ver, santos a curtir pobreza e continência aprisionados no Vaticano. Está na hora de se limpar os entulhos do passado que desfiguram a Igreja de Deus. O Vaticano não é o chão da Igreja. Jesus a destruir o templo de Jerusalém não pela força e pelo poder que nunca teve, assolou todas as tentações de poderio: meu reino não é deste mundo. Triste reino de Deus, o Vaticano que sedia o servo dos servos cercado de luxo e de tesouros. O pobre dinheiro da comunidade de Jesus era guardado pelo cardeal Judas para comprar comidas, naquele tempo já alguém roubava sua parte, na cara de Jesus. Impassível.
Imensa a tarefa do novo papa a transformar a Igreja de Jesus. Sozinho, no peito e na raça, não vai conseguir nada. A ele congraçar e animar os corações que amam a Igreja a que se faça a luz. O site croire.com escreveu em editorial no dia em que o papa saiu: “ imensas dificuldades da carga que incumbe o papa emérito, ele continuará a suportar na oração”. Pedindo o quê? Que corações se convertem? Pedir a Jesus que se acorde dormindo no fundo da barca a serenar tempestades? Longe de medo e tristes, guardemos a misteriosa certeza de Jesus: tenhais a paz (...). eu venci o mundo João 16,33.
Novo dia para a Igreja: tão longa a esperança, tão curta a vida.

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