domingo, 10 de fevereiro de 2013

Kiss


de carnaval a quarta-feira de cinzas


a.j.chiavegato


Vira e mexe morrem jovens por acidente ou por assassinato. Estatística. Desgraças entram em casas às noites diante da televisão. Sincera e ineficaz revolta: meu Deus esse país tá uma coisa! Assistimos novela, damos uma espiadinha básica no BBB e dormimos com chuva ou não, com sonhos ou não e outro dia amanhece no o mundo sobre justos e injustos. Jovem que morre é sempre uma tragédia que engolimos em doses homeopáticas envenenando-nos lentamente se não encontrarmos os devidos antibióticos. Agora, quando jovens morrem aos montes é fogo! Sei que o trocadilho é de extremo mau gosto, pior o que a vida nos apronta sem clemência e sem graça. Kiss, nosso carnaval acabou. Lágrimas se desdobraram em revolta: quem é o culpado? Faixas silenciosas exigindo justiça. Vamos nos entender, de cara, entre os muitos suspeitos, vamos tirar Deus daí que explico. Claro, sei que uns dizem que foi ele, acham que nem existe. Outros nele se refugiam, pobre tabua a se agarrar quando o mundo se afunda em tristezas. Apesar de tudo, vivemos. Sobre toda tragédia, outro dia amanhece, o sol ilumina tudo, enxuga lágrimas, desfaz neblinas, espanta sombras da noite, novas sombras das árvores a acolher os que trabalham a inventar o dia e a vida, a nossa responsabilidade, tarefa de viver.
No fundo do desespero não é fácil aplacar o anseio por justiça. Poderemos encontrar pessoas e instituições a serem exemplarmente punidas, erigiremos memorial coberto de flores onde jovens morreram e seguramente perceberemos que nunca e nada saciará exigências de justiça, nunca abolida a nossa tristeza.
Vida humana esbarra em muros, duros, intransponíveis, duro o mistério de Deus. Negá-lo e daí ?! Viver não é afirmar a existência de Deus, mas encontrar o sentido de nossa liberdade. Independente de nossa vontade, Deus existe, queiramos ou não, criou-nos livres. Para além desse mistério Deus está ai, permeando tudo, nossa infidelidade, nossas tristezas e nosso desespero. No entanto, acho que viver vale a pena apesar da morte.
Kiss, sei que alguns jovens morreram a salvar outros descobrindo para si e para nós que vale a pena morrer por amor. Quando desabam vidas, quando se instalam desesperos, Deus está ai, misteriosamente inventando janelas a abrir à luz, ao dia, quando a casa se desmoronou .
Termino. Por vezes a vida bagunça um monte de coisas a confundir cabeças e expressão: morte, Deus, desespero, culpa, revolta, vítimas, jovens que morrem ao lado de jovens que vivem, cantam, dançam e amam, especialmente crianças que brincam sonhando o futuro, que era uma vez a felicidade de jovens que morreram e dos que inventaram um caminho da alegria a morrer por amor. A nós, entre tanta confusão discernir razões para amar e viver. A vida não é mole, não é coisa a se levar à flor da pele. Só em fundos emerge a esperança e a alegria. 

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