a.j.chiavegato
Vira e
mexe morrem jovens por acidente ou por assassinato. Estatística.
Desgraças entram em casas às noites diante da televisão. Sincera
e ineficaz revolta: meu Deus
esse país tá uma coisa! Assistimos
novela, damos uma espiadinha básica no BBB e dormimos com chuva ou
não, com sonhos ou não e outro dia amanhece no o mundo sobre
justos e injustos. Jovem que morre é
sempre uma tragédia que engolimos em doses homeopáticas
envenenando-nos lentamente se não encontrarmos os devidos
antibióticos. Agora, quando jovens morrem aos montes é fogo! Sei
que o trocadilho é de extremo mau gosto, pior o que a vida nos
apronta sem clemência e sem graça. Kiss, nosso carnaval acabou.
Lágrimas se desdobraram em revolta: quem é o
culpado? Faixas silenciosas exigindo
justiça. Vamos nos entender, de cara, entre os muitos suspeitos,
vamos tirar Deus daí que explico. Claro, sei que uns dizem que foi
ele, acham que nem existe. Outros nele se refugiam, pobre tabua a
se agarrar quando o mundo se afunda em tristezas. Apesar de tudo,
vivemos. Sobre toda tragédia, outro dia amanhece, o sol ilumina
tudo, enxuga lágrimas, desfaz neblinas, espanta sombras da noite,
novas sombras das árvores a acolher os que trabalham a inventar o
dia e a vida, a nossa responsabilidade, tarefa de viver.
No fundo
do desespero não é fácil aplacar o anseio por justiça.
Poderemos encontrar pessoas e instituições a serem exemplarmente
punidas, erigiremos memorial coberto de flores onde jovens
morreram e seguramente perceberemos que nunca e nada saciará
exigências de justiça, nunca abolida a nossa tristeza.
Vida
humana esbarra em muros, duros, intransponíveis, duro o mistério
de Deus. Negá-lo e daí ?! Viver não é afirmar a existência de
Deus, mas encontrar o sentido de nossa liberdade. Independente de
nossa vontade, Deus existe, queiramos ou não, criou-nos livres.
Para além desse mistério Deus está ai, permeando tudo, nossa
infidelidade, nossas tristezas e nosso desespero. No entanto, acho
que viver vale a pena apesar da morte.
Kiss, sei
que alguns jovens morreram a salvar outros descobrindo para si e
para nós que vale a pena morrer por amor. Quando desabam vidas,
quando se instalam desesperos, Deus está ai, misteriosamente
inventando janelas a abrir à luz, ao dia, quando a casa se
desmoronou .
Termino.
Por vezes a vida bagunça um monte de coisas a confundir cabeças e
expressão: morte, Deus, desespero, culpa, revolta, vítimas, jovens
que morrem ao lado de jovens que vivem, cantam, dançam e amam,
especialmente crianças que brincam sonhando o futuro, que era
uma vez a felicidade de jovens que morreram e
dos que inventaram um caminho da alegria a morrer por amor. A nós,
entre tanta confusão discernir razões para amar e viver. A vida
não é mole, não é coisa a se levar à flor da pele. Só em
fundos emerge a esperança e a alegria.
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