Sísifo
a.j.chiavegato
Os
deuses tinham condenado Sísifo
Por
toda
a
eternidade
a
rolar
uma
grande
pedra
ao
alto
da
montanha,
Quando
a
atingia
ao
cume,
Rolava
novamente
Por
meio
de
uma
força
irresistível.
(Albert
CAMUS)
Moro
à
rua
Monte
Alegre,
não
nos
altos
onde
vistas
se
descortinam,
lá
em
baixo,
como
dizem,
no
buraco.
A
sair
do
prédio
temos
que
enfrentar
a
ladeira
e
bota
ladeira
nisso.
Minha
amiga
e
colega
de
idades
avançadas
me
disse:
você
já
percebeu
que
esta
subida
está
aumentando?!
Concordei:
Ô!
Para
cardíacos,
se
sobem,
gravíssimo
risco
que
não
voltem
mais.
Meu
irmão
veio
levar
uma
geladeira
duplex
ao
meu
sítio,
em
uma
pick-up,
no
meio
da
rampa,
meu
Deus,
não
sobe!
–
pensei,
vai
empinar
e
cair
de
costa.
Rezei
a
tudo
que
é
anjo
e
a
são
Gonçalo,
de
quem
devoto:
pelo
amor
Deus,
empurrem!
Subiu.
Alertou-me
São
Gonçalo:
desta
vez,
tudo
bem,
que
seja
a
última!
A
rampa.
Como
em
tudo
na
vida
tem
cara-coroa
e
vice-versas
, quem
sobe,
desce,
pensa
que
vale
aqui
o
provérbio
que
pra
baixo
todos
santos
ajudam?
– uma
ova!
Pinguço
não
desce,
vivo.
Sem
breques
ajustados
evitem
gordos
e
gordos
a
descer
a
ladeira.
Vi
uma
vez
um
velho,
escorregou
em
areia
e
veio
pra
baixo,
bumbum
em
chão,
em
pulinhos,
coitado,
era
magro!
Por
dias
não
sentou,
botei-lhe
bolsas
de
gelo
–
disse
a
mulher.
Não
vi,
disseram-me,
uma
mulher,
dotada
de
avantajado
porta
malas,
encapotou
e
veio
vindo
a
esborrachar-se
aqui
em
baixo
e
pior
que
não
estava
desprevenida,
os
vexames,
olhando
meia
dúzia
de
velhos
sentados
tomando
a
fresca,
atiçadas
as
concupiscências
temporonas.
E
chega
de
ladeira,
rampa,
em
suma,
uma
baita
montanha,
digna
a
Sísifo
e
vamos
à
história
que
narro.
Agora
mesmo
a
encontrou,
beirando
os
oitenta
anos
e
tem
defeitos
de
pernas,
não
sei
de
nascença
se
ao
peso
de
anos
e
de
vida.
É
doméstica.
Passos
que
se
arrastam,
em
lento
balanço
de
pernas
tortas,
à
mão
direita,
uma
bengala.
Bom
dia!
–
digo-lhe
que
desce
a
rampa
ao
trabalho.
Levanta
olhos
opacos,
responde
em
voz
fraca,
em
resignações.
Boa
tarde,
senhora!
–
quando
ela
sobe,
em
fins
do
dia.
Manhãs
e
tardes,
chuva
ou
sol,
ela,
está
aí,
empurrando
sua
vida
que
de
manhã
que
se
rola
de
novo
em
vão
esforço.
A
mitologia
grega
contem
três
heróis
que
iluminam
a
aventura
da
vida
humana:
Prometeu,
Sísifo
e
Tântalo.
Mircea
Eliade
explica:
mito
conta
uma
história
sagrada
– o
mais
das
vezes,
trágica,
o
drama
da
luta
do
homem
apaixonado
da
liberdade
de
inventar
sua
vida,
paixão
e
castigo,
da
paixão
de
verdade,
conhecer
é
sua
vocação
e
por
fim,
paixão
de
viver,
como
imortais
os
deuses.
Gênesis
é
um
belíssimo
mito
que
ilumina
nossa
fé.
O
mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um
mito brilhante e mudo.(Fernando Pessoa).
Lembram-se
da
cobra
no
paraíso
oferecendo
a
Adão
e
Eva
o
fruto
da
vida:
na
hora
em
que
comerem,
seus
olhos
se
abrirem
e
serão
como
Deus?
Paixão
da
verdade,
a
aventura
à
luz
e
um
castigo.
Deuses
heróis
e
os
homens,
expulsos
do
Olímpico
e
do
Éden,
onde
moram
deuses
e
Deus
em
trancados
em
seu
paraíso.
Em
portas
do
Éden
Deus
determinou
um
monte
de
querubins,
armados
de
espadas
flamejantes,
por
aqui
nenhum
mortal
passa.
Em
1942, Albert
Camus
publicou
o
Mito
de
Sísifo.
Em
uma
bela
página
parece
o
homem
resignar-se
ao
absurdo
da
vida.
Sísifo,
em
seu
esforço
heroico,
apesar
de
contrações
de
seus
músculos
e
das
cintilações
de
sua
esperança
absurda
e
luta,
como
minha
amiga.
Pesa-lhe
o
castigo:
o
homem
comerá
o
pão
ao
suor
de
seu
rosto
e
a
mulher
parirá
em
dor
seus
filhos.
Não
sei
se
minha
amiga
crê
em
Deus,
tenho
certeza
que
o
amor
ilumina
sua
vida
e
não
importa.
Em
luta
de
cada
dia,
arranca
uma
incansável
esperança,
não
contra
Deus,
como
Sísifo
em
luta
com
deuses,
ela
nEle
se
entrega.
Descendo,
subindo
empurrando
sua
vida,
passo
a
passo,
sempre
vislumbrando
os
cimos.
Pensei-a
Maria,
mulher
que
está
sempre
em
pé,
achei
que
se
chamasse
Aurora,
esperança
que
clareia
os
montes.
Disseram-me:
Rosa.
Boa
tarde,
dona
Rosa!
– flor
que
se
despetala
em
tardes
e
em
cada
manhã
de
novo
se
desabrocha.
Deixo
Rosa
nos
altos
da
ladeira
em
direção
às
alturas.
Cerro,
na
expressão
fantástica
de
Camus
ao
terminar
seu
mito:
deve-se
imaginar
Rosa
feliz.
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